segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

A terra dos anjos

"É, acho que é isso o que eu mais queria. Queria achar um refúgio. Um lugar longe de tudo para onde eu pudesse correr. Um lugar menos hostil, menos estranho a mim, menos distante das minhas fantasias... Um lugar que me detivesse como aquele em que eu detenho os meus pensamentos na minha mente. Talvez um lugar mais meu. Mais próximo de mim. Com mais daqueles parecidos comigo. Aqueles que eu vi nos meus sonhos. Talvez aquele lugar que eu vejo quando olho através das coisas. Aquele que ninguém mais conhece ou ouviu falar. Aquele que nem mesmo descrevendo as pessoas se aproximam dele na imaginação. Algo que ninguém realmente nunca tenha visto.

Ele é minha lembrança mais clara: o mundo lá é tão verde que qualquer planta gostaria de viver lá. As fadas cuidam dos bosques e de seus habitantes. Os animais vivem em harmonia. Lá se vive pelo que se produz e o que se produz se utiliza para se viver. Nos alimentamos do que a terra nos entrega pelas árvores. Somos todos como frutos dessa terra que fala conosco pelo vento, pela água, plantas animais e pela própria terra. Os espíritos da vida viajam por entre as plantas, perto das águas, perto do mar, nas montanhas. Criaturas incríveis habitam esse lugar. De todos os tipos: comuns, conhecidos, misticos, lendas. Pode-se sentir a presença da música em qualquer lugar. É como se existissem espíritos que passam a vida cantando. É tão melodioso que parece magia. As estrelas descem dos céus e brincam no ar durante o dia e durante a noite voltam ao céu para ajudar a iluminar com o luar. O sol e a lua se encontram todos os dias. Quem sabe lá não existam anjos?

Eu me lembro de ver pessoas nesse lugar. Nesse meu lugar. Pessoas que sorriam como eu. Que pareciam comigo. Por dentro, não por fora. Podia ver a luz que eles emanavam e aquilo seria felicidade. As vezes nem todos estavam lá. Era como se tivessem que viajar, mas eles voltavam. No meu sonho eu não via como chegar lá, nem como eu poderia sair. Parece que eu só preciso saber que ele existe. Um lugar para mim. Um lugar Meu. Ao qual pertenço. Com meus Iguais... sejam eles quem forem...

Queria que o caminho para esse lugar aparecesse agora, na minha frente, como se tivesse descido do céu... como uma escada... e no alto estivesse a luz, a passagem...

Se eu pudesse, era pra lá que fugiria. Era pra lá que eu iria agora. Era lá que eu queria estar...

Talvez lá seja a terra dos anjos..."

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Aquilo que esperam de nós


Devemos ser o que somos? (Parte 2)

Você já se perguntou o peso de ser quem você é? É uma questão interessante. Toda ação requer uma reação, segundo a Terceira Lei de Newton. Nossas ações provêm de pensamentos ou comportamentos automáticos. Agir então é uma forma de se expressar. Da mesma forma, o não-agir também é uma forma de expressão. (Esqueci quem foi o pensador que falou isso). Dessa forma afirmamos o tempo todo o que somos. Que peso será que isso tem? Quais as consequências?

Em outra ocasião, eu já discuti se devemos ser quem somos. (Devemos ser o que somos?) Minha opinião sobre isso é "seja você mesmo e aceite os riscos". já questionei também sobre o comportamento egoísta do ser humano. (Egoísmo e indiferença...) Diante desses dois questionamentos eu faço outro: será que somos aceitos como somos?

Em um mundo cada vez mais desligado das boas relações entre as pessoas, um mundo que nos cobra uma produtividade exagerada em todos os aspectos da vida, um mundo que rejeita os menos aptos, o homem trata o homem como um empregado. Estamos sempre esperando que todos preencham nossas espectativas. Quase nunca nos preocupamos em aceitar o outro com suas qualidades e defeitos e assim esperar outro resultado. Compreender a limitação de cada um e parar de cobrar parentes, amigos e conhecidos como se eles fossem máquinas das quais buscamos sempre o superávit.

Será que somos capazes de ser menos egoístas, menos indiferentes aos outros, mais compreensivos, mais prestativos com os outros em suas dificuldades para finalmente agirmos de humano para humano?

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

O Caos, de dentro pra fora...

Sabe quando você só quer correr, correr, correr... sumir... gritar muito alto e até chorar enquanto corre sem se incomodar com quem vai olhar? Sem se importar para onde está andando?

Sua garganta fecha, coração dói quando se contrai, seus olhos perdem o foco e embaçam por causa das lágrimas, você não se mexe, sua respiração se torna curta e inaudível... suas mãos se fecham, você olha para o chão e não sabe o que fazer. Não quer despejar toda aquela energia ruim em choro para não ser criticado, chamado de fraco... você procura um refúgio, mas não tem. Você resolve correr... correr... correr... e as lágrimas ganham força, dobram as esquinas nos olhos e escorrem para as orelhas por causa do vento no rosto. Seus punhos serrados ferem a palma da sua mão mas você nem sente. Vem uma coisa na sua garganta e sem forças você deixa passar o grito.

Mesmo sem direção você só corre. Não tem nenhum lugar pra ir, mas quer fugir. Se livrar daquilo que dói...

Procurar liberdade...

Procurar uma zona com menor pressão...

Procurar um lugar para sumir...

Queria poder fazer isso. Apesar de não se precisar de um lugar para correr, eu não tenho um caminho para percorrer, ou eu já estaria nele. Punhos serrados, mãos já machucadas. Olhos embaçados e sem foco escondidos por sorrisos falsos. O grito está mudo porquê não posso acordar os vizinhos... mas será que alguém ouviria?

Alguém é capaz de entrar no mundo de outra pessoa e acalmar uma tempestade? O caos? Talvez o armagedon?

Tem alguém ai?*gritando*

Alguém pode ouvir?*gritando*

*choro*aaaaaaah!!*grito*

=’(

domingo, 1 de fevereiro de 2009

A menina, o sótão e o abajur em forma de anjo



A menina, o sótão e o abajur em forma de anjo

Era uma vez uma menina em um sótão escuro em uma noite de chuva.
A janela permitia ver a luz dos raios que do lado de fora da casa rasgavam o céu escuro da noite como se rasga um pedaço de seda.
Os barulhos não era abafados pois a madeira do telhado não isolava o seu interior com eficácia.
Os raios e um pequeno abajur velho em forma de anjo eram a única iluminação no cômodo.
O anjo parecia tentar alcançar alguma coisa e em sua mão, ao alto, se encontrava a lâmpada incandescente em volta de uma esfera de vidro.
A primeira vista era inusitado, mas trazia algum sentido para quem o observava por alguns minutos, assim como a menina fazia.
Encolhida em um canto do sótão, ela abraçava seus joelhos e estes seguravam seu queixo.
Não se via medo em seu olhar fixo para o estranho abajur de anjo.
Era um olhar distante, perdido... talvez tanto quanto seus pensamentos.
Os trovões estrondeavam sem ritmo enquanto a chuva caía constante e forte. Os pingos da chuva batiam nas calhas do telhado como pedras no metal enferrujado do sistema de escoação da casa.
Quem não se sentiria desconfortável em um lugar assim?
Mas a menina não estava. Era como se já esperasse algo inevitável.
O barulho, o escuro, a solidão do sótão lhe eram quase familiares.
Ela já estava ali a tanto tempo que talvez ela mesmo não soubesse quanto ao certo.
Seus traços doces e sutis faziam contraste com o fundo abandonado, escuro e barulhento.
Ela não parecia procurar nada, nem ninguém, nem sequer um pensamento.
De repente, os trovões ecoaram mais fortes, os raios piscaram com mais intensidade, uma janela se abriu com o vento deixando a chuva molhar o chão de madeira e a luz que o anjo segurava piscou algumas vezes.
Delicadamente a menina se levantou sem vontade como se tivesse sido chamada por alguém que interrompeu sua viagem interna.
A luz piscou de novo e mais ameaçante.
Parecia que estava para apagar.
A menina então olhou para os do anjo e a luz que ele segurava foi se apagando à medida que ela ia ficando translúcida.
A luz se apagou e ela sumiu.
Nesse momento ela acordou lentamente.
Estava sentada no mesmo lugar de antes e a luz do abajur de anjo ainda estava acessa. Tudo como antes.
A chuva, os trovões, os raios, a escuridão, a solidão.
Ela teve um sonho, talvez um pesadelo, não se sabe.
Ao perceber o sonho ela se levantou da mesma forma que em sua ilusão e andou na direção da luz e do anjo e olhou nos olhos do anjo e perguntou-se:
“será que você existe?”
Olhou para a lâmpada e perguntou-se:
“será que você vai se apagar?”
Caminhou até a janela que se abriu em seu sonho, olhou para o lado de fora onde a tempestade castigava um campo verde inundado e se perguntou:
“será que um dia a calmaria virá?”
Seu olhar permanecia distante.
E ela virou-se, andou e dessa vez deitou-se aos pés do abajur em forma de anjo que parecia tentar alcançar alguma coisa e em sua mão, ao alto, se encontrava a lâmpada incandescente em volta de uma esfera de vidro.